Nome da escola: CEI Shangri-lá - Núcleo III - CCJA Responsável pelo projeto / ação: José Leonardo Garcia e Karen Mariana Aguiar Função: Professor de Educação Infantil - Professora de Educação Infantil Município / Estado: São Paulo - SP Faixa etária atendida: 3 a 4 anos Categoria: Professor 1: Passei a ouvir, observar e conhecer mais as crianças A exploração e a pesquisa das crianças alicerçaram suas trajetórias de contato com as narrativas, pois elas já demonstravam habilidades em recontar as narrativas orais. Além da valorização da cultura africana, essa ação trouxe também a oportunidade de se discutir a questão das diferenças (religião, cor, e afins), a pluralidade e os direitos. O que levou a realização da prática? (diagnóstico) O interesse das crianças pelos contos populares e a presença de crianças de diferentes raças na escola, levou a professora a realizar uma sequência didática que trabalhava com os contos africanos. Descrição das intervenções que foram realizadas O foco do trabalho com o novo e com a descoberta, criou contextos e despertou o desejo de conhecer e explorar os encantos da África, bem como trouxe à tona todo o conhecimento e potencial das crianças. Os contos africanos transmitidos por gerações, celebram a cultura e os costumes de um povo possibilitaram aprendizagens e valorização de uma cultura diferente. A beleza e as cores reveladas nas imagens dos contos (um fator marcante), seus tons contrastantes à realidade, marcada por desigualdes, carregam nas cores a força dessa cultura. As mesmas cores vibrantes foram utilizadas nos espaços durante as leituras e contações; cenários criados as crianças, com muitos elementos naturais. Utilizaram-se outros instrumentos como brinquedos (animais africanos, castelos etc.), fantoches, etc, em narrativas e personagens que trouxeram novas descobertas e novos desafios. Descrição dos saberes e fazeres infantis que emergiram no trabalho desenvolvido Com essa sequência de atividades, pode-se perceber o quanto as crianças são capazes e nos surpreendem. A cada atividade, revelavam o que sabiam e o que estavam aprendendo e imaginando. Num simples apontar de dedo, para dizer que aqueles eram animais da áfrica; que a bola transparente agora era a lua, e que poderiam ter inúmeras bolas, seriam “várias luas”, ou quando o brincar com a “cobra de meia colorida” era brincar com seu amigo sapo; e que as imagens gravadas na capa do livro, já definiam as “histórias da África”. A palavra “emoção” é aquela que caracteriza o encontro das crianças com os contos africanos. Foram dois meses de um mergulho que ampliou a visão sobre a África e sua cultura e também um momento onde as crianças puderam expressar tudo o que sabiam e tudo o que aprenderam nesse processo. Descrição dos resultados das ações Um dos pontos marcantes dessa sequência, foi a participação de dona Inês, mãe de uma das crianças, de origem angolana. Ela prontamente aceitou o convite e foi além, presenteou as crianças e os adultos com uma boneca de pano, tão comum para ela, em sua cultura, pois produzem os brinquedos para seus filhos. Realizou-se uma vivência, uma imersão nessa cultura, por meio das histórias da Dona Inês, o que confirmou para todos que o saber, o conhecimento, é como uma semente, nunca como árvore crescida. Os pais também tiveram a oportunidade de aprender, por exemplo, revelado na frase de uma mãe: “o Baobá é uma árvore muito grande e é preciso vários homens para abraçá-la”; E uma criança explicando para a mãe: ... “é assim que se dança lá na África”.
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Nome da Instituição: CEI A. E. Carvalho Responsável: Maria Mauricia da Silva Souza Rabelo Função ou cargo que ocupa: Diretora Equipe participante: Docentes, gestão operacional, crianças, famílias e comunidade Categoria: Gestão 1 - Como favorecemos o protagonismo infantil (o olhar da gestão para a criança) Município e Estado: São Paulo/SP Faixa etária atendida: 0 a 3 anos O que levou a realização da prática? (diagnóstico) A proposta teve como princípio garantir os direitos de bebês e crianças de se locomoverem pelo bairro cotidianamente para chegarem ao CEI, entendendo que o educar e cuidar vai além dos muros da escola da infância, envolvendo a família e a comunidade. O terreno ao lado da escola era um ponto de descarte irregular de lixo. As crianças percebiam o incômodo que isso causava e conversavam sobre os problemas e dificuldades que tinha para chegar na escola. Nas discussões em roda a professora e as crianças começaram a pensar no que poderia ser feito para resolver esse problema. Descrição das intervenções que foram realizadas Com esta demanda no cotidiano da unidade, a direção e demais funcionários constataram a necessidade de atuar junto às crianças na preservação e conservação do ambiente externo ao CEI, buscando uma melhor convivência no território. A intenção foi desenvolver uma ação em que as próprias crianças pudessem participar das mudanças no território, conservando e preservando o espaço em que vivem, o que amplia a visão cidadã para a conquista de uma sociedade mais sustentável. O plano de ação contemplava encontros com o poder público, garantindo a rede de proteção; visitas ao espaço; vivencias e experiências significativas com as crianças; oficinas com as famílias; encontros com os moradores; monitoramento do espaço junto com as crianças, além do diálogo com outras instituições da comunidade. Depois da retirada do lixo do local pela prefeitura, uma reinvindicação do CEI, os familiares e moradores do entorno prepararam o espaço junto com as crianças e funcionários, embelezando-o com plantas, com pinturas nos muros, colocação de brinquedos, entre outros, efetivando a ocupação daquele espaço, agora revitalizado. As crianças apropriavam-se do espaço e discutiam mais possibilidades de melhorias. Descrição dos saberes e fazeres infantis que emergiram no trabalho desenvolvido É preciso discutir políticas públicas desde a creche, com crianças pequenas, porque elas são capazes de compreender o que acontece no território e também de disseminar seus conhecimentos. Suas vozes precisam ser ouvidas e levadas a sério. Em roda de conversa com as crianças a intenção era fazer provocações em relação ao descarte de lixo em vias públicas. Surgiram muitas falas interessantes sobre o entorno da creche e de suas casas, tais como: - “Minha avó mora em frente, entra rato na casa dela!” - “Tiraram o lixo da calçada, agora posso passar com minha mãe; - “Não pode jogar lixo na rua tem que jogar no lixo” Muitos assuntos interessavam às crianças e elas buscavam soluções para o problema que enfrentavam. Descrição dos resultados das ações O projeto alcançou sua metade hoje o espaço é monitorado por todos, mantendo a limpeza local, o envolvimento das crianças e famílias. O diálogo com a comunidade ficou mais frequente, estreitando as relações e o senso de pertencimento. As crianças. Com seus direitos garantidos, ocupam o espaço coletivo para experimentar, aprender, brincar, explorar, se esconder e se encantar com e na natureza. Juntos, na parceria, com criatividade, coragem e incentivo é possível garantir direitos e inovar, superando as dificuldades e desemparedando as infâncias. Esta é uma ação de cuidado. Cuidado consigo, com o outro e com o meio ambiente. Nome do Projeto: Com que roupa eu vou para chuva Responsáveis: Adriana Miliorança, Andrea Miliorança, Tessy Rocha Instituição: Centro de Educação Infantil Cantinho Feliz - Curitiba-PR Faixa etária atendida: 0 a 3 anos Como ocorre em várias instituições no Centro de Educação Infantil (CEI) Cantinho Feliz as crianças conversavam sobre o tempo observando da janela e registravam no calendário se havia sol ou chuva. Prática mecânica que não traz nenhuma contribuição para uma aprendizagem efetiva. Além disso, brincavam na sala nos dias de chuva e permaneciam nesse espaço por longos períodos, mesmo nos dias de sol.
Com muita formação continuada, reflexão sobre a prática e novas informações sobre como crianças pequenas constroem conhecimentos sobre a natureza, foi possível mudar completamente as atividades da unidade educativa. Destacamos aqui principalmente a capacidade de ouvir as crianças e as propostas com sentido e significado que foram desenvolvidas. Os saberes infantis sobre a chuva: - Tem vento. Sempre que tem vento chove? - O parque está molhado porque choveu. - Mas o parque não tá todo molhado,eu acho que não é chuva. - É porque tem neblina que o parque tá molhado! - Quando eu vou na praia tem neblina. - Tem sol, mas tá frio. - Pra medir a temperatura, a gente usa um termômetro, eu vi no Doc, ( Discovery Kids) As professoras começaram além de prestar atenção aos saberes infantis, propiciar experiênciasde exploração nos espaços externos com elementos da natureza . As crianças puderam adequar vestimentas para brincar nos dias de chuva, pisar no barro e nas poças de água. Houve um aumento grande de repertório e os pequenos puderam realizar comparações sobre espaços, condições climáticas e adequação de vestuário. Os registros por meio de desenho e fotográfico dão conta das inúmeras aprendizagens com sentido e significado que todos os envolvidos , crianças e professoras, puderam fazer. OBS: Mais informações sobre essa experiência, você encontra na Revista Avisa lá nº 64 (Novembro/2015). Nome da escola: INSTITUTO PRÓ-SABER SP Responsável pelo projeto/ação: FERNANDA RENNER, MÁRCIA FÉLIX E LIA OLIVAL Função: COORDENADORAS PEDAGÓGICAS Educadores envolvidos no projeto: CRISTIANE MENDES, KARINA ALVES E PATRÍCIA SOARES Município/Estado:SÃO PAULO - SP Faixa etária atendida: CRIANÇAS DE 4 A 10 ANOS O que levou à realização da prática? (diagnóstico) O “Chá Literário foi criado a partir de um trabalho de sondagens de leitura e escrita com crianças que participaram do programa Ler & Brincar, em 2017. O evento tem o intuito de estimular a leitura, e ajudar as crianças a ler com fluência textos significativos, como poemas, quadrinhas, adivinhas, músicas, entre outros Descrição das ações realizadas: As crianças escolhem os textos que vão ler no Chá e trabalham com eles durante vários dias, apoiadas pelos professores e levando para ler com seus familiares, o que contribui para que adquiram confiança e fluência para ler. Os Chás Literários que acontecem todos os meses, é levado muito a sério, mas também é recheado de afetividade e diversão. Descrição dos fazeres e saberes infantis que emergiram no trabalho desenvolvido: Ao longo do ano, realizamos muitas edições do Chá e isso revelou toda a potência que as crianças têm, desde que tenham a oportunidade de aprimorar e expressar seus conhecimentos. Percebemos que o chá é um acontecimento muito esperado por elas. No dia marcado, vemos crianças bem arrumadas, com cabelo enfeitado e até de roupa nova. Tudo para se apresentar para os colegas. As crianças escolhem com quem querem ler, e se precisam de ajuda do professor. Muitas começam tímidas e muito inseguras, mas aos poucos, vão ganhando confiança. Não é apenas ler com fluência, mas também sentir-se capaz, respeitada e acolhida nos seus saberes. Nas primeiras apresentações, apenas as crianças que já sabem ler sentem-se preparadas para fazê-lo diante dos amigos. Com o passar dos meses, e a partir de boas intervenções dos professores, é comum que 100% do grupo participe. Até as mais tímidas e com dificuldades conseguem ler. Para isso acontecer, as crianças leem juntas para que se apoiem, e também os professores leem junto. Dessa forma, mostramos que o desafio é possível, e que ler é uma atividade repleta de contexto. Descrição dos resultados da ação: Ao longo de um ano, realizamos 10 edições do chá literário. Comprovamos com atividades de sondagem e leituras em sala feitas pelos alunos que, aqueles que tinham dificuldades para ler, conseguem desenvolver a fluência e melhorar o seu desempenho. Temos relatos de famílias sobre o quanto as crianças são elogiadas pelos professores, o que traz uma grande satisfação a todos. Também percebemos que o sucesso na leitura desenvolve o gosto e o interesse em participar de eventos como esse. As crianças sentem-se capazes e felizes em conseguir mostrar o que sabem e o que aprendem. Ler no chá literário, seja sozinho, com outras crianças ou em grupo é um grande desafio para muitas delas. Transpor essa barreira é um marco para todas. A cada mês vemos mais crianças subirem no palco para ler e compartilhar essa conquista com o grupo. Para a equipe de educadores fica a certeza de que boas práticas de leitura podem ser decisivas no desenvolvimento das crianças. Ao final das leituras, todas as crianças e professores tomam chá com bolachas, e celebram a leitura de forma única. Nome da Instituição: Escola Municipal de Educação Infantil Vasco Prado Responsável: Caroline da Costa Cardoso Função ou cargo que ocupa: Professora/Coordenadora Pedagógica Equipe participante: Mara Regina Souto Jacques Município e Estado: Uruguaina/ RS Faixa etária atendida: 0 a 3 anos Categoria: Gestão 2 : Projetos de Formação O que levou a realização da prática? (diagnóstico) A partir da reflexão sobre os registros das professoras, a coordenadora pedagógica, decidiu investir em um processo de formação que construísse uma nova identidade para a creche. Isso porque as narrativas dos registros não se conectavam aos modos de aprender das crianças e a sua relação com o mundo. A presença de relatos como: “Na pracinha explora todos os brinquedos com a ajuda da educadora, mostrando coordenação motora compatível com sua faixa etária”, revelava uma prática desprovida de significado e frustrante para as professoras. Não havia uma correspondência entre as manifestações infantis e o que elas propunham. Queixas como falta de concentração das crianças nas atividades ou insatisfação com relação ao alcance de algum conhecimento formal, como cores e números eram comuns no cotidiano. Os registros fotográficos demonstravam, da mesma forma, pouca expressividade no fazer das crianças, como se a intenção fosse apenas marcar a concretização de um planejamento e o alcance de objetivos pré-definidos pelo adulto. As potencialidades das crianças pareciam invisíveis para as professoras, elas passavam despercebidas e ficavam dúvidas sobre o lugar do adulto nesse espaço. Como poderiam reconstruir os olhares para as crianças, reconstruindo, ao mesmo tempo, novos sentidos para a prática docente na escola? Partindo de sua própria experiência como professora, a Coordenadora resgatou o modo como se afetava com as escutas das crianças, para sensibilizar o grupo de professoras, despertando-as para algo novo, diferente e que possibilitasse uma abertura para se ver as maravilhosas manifestações de quem está descobrindo o mundo e encontrando formas para mostrar o quanto poderia ser significativo cada momento que passavam com as crianças. A Coordenadora acreditou que, assim como ela, as professoras poderiam aprender com as crianças e encontrar um novo sentido para seu papel na escola de educação infantil. Descrição das intervenções que foram realizadas As formações se tiveram como referência as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil e a Base Nacional Comum Curricular, buscando confrontar seus conceitos com aqueles construídos na prática cotidiana das professoras. Deu início confrontando dois conceitos: atividade e experiência. Propôs a utilização dos registros de forma que as professoras buscassem as experiências das crianças, mesmo que as propostas ainda fossem vistas, por elas, como atividades. Isso possibilitou uma nova forma de olhar, tornando visível o que não era observado anteriormente, pois as crianças estão a todo momento em busca de suas próprias experiências. Discutiram os direitos de aprendizagem da BNCC observando a busca das crianças pela garantia desses direitos, mesmo em contextos que não valorizam suas potencialidades. E, cada direito pode ser relacionado a uma situação cotidiana comumente apresentada pelas crianças, mas que os adultos normalmente não conseguiam acolher e interpretar. A Coordenadora se valeu de uma estratégia muito simples, mas que se mostrou bastante eficaz. Propôs às professoras a confecção de bolsas artesanais, que utilizariam a tiracolo, como um bloco de anotações para não perderem os indícios que as crianças apresentavam no dia a dia da escola, além de construírem seus modos próprios de escrever. Nos encontros de formação iam entrelaçando as observações escritas das professoras com os conteúdos já discutidos em encontros anteriores. O resultado desse trabalho foi a construção de uma mapa conceitual a partir dos olhares e falas das professoras que revelava o que aprendiam e desenvolviam com as crianças. A partir daí muitas oportunidades formativas nasceram no cotidiano da escola; apostando no despertar das professoras a partir de uma escuta efetiva e para ressignificação de seu papel como professoras na creche, nutrida cotidianamente, com as tessituras do crescimento de crianças e adultos. Descrição dos saberes e fazeres infantis que emergiram no trabalho desenvolvido Nos relatórios as crianças ganham maior liberdade para buscar os próprios significados, validados pelos adultos por meios da escuta e identificação das subjetividades em um contexto coletivo, tais como: “Na atividade com argila, água e espaguete, Isabela misturou os ingredientes, mostrando para as educadoras as transformações que ela observava acontecer.” Ou, “Experimenta situações de faz de conta com sua colega Ana; sempre inventam boas brincadeiras, gostam de explorar o pátio. Sobem, descem, correm, escorregam, observam plantas, insetos, buracos, dizem que é a casa do jacaré.” Descrição dos resultados das ações Considerando esses movimentos de escuta como uma conquista do grupo de professoras, foi proposto um novo desafio, a realização de uma Mostra Pedagógica diferente, tornando visíveis as escutas que mostravam os percursos vividos pelas crianças ao longo do semestre. Cada professora escolheu duas experiências narradas em fotos e textos para que as crianças e as famílias pudessem ocupar esse espaço e viver esse encontro de uma forma diferente das anteriores. E num tempo leve e fluido, as famílias ocuparam a Mostra, circulando pelo espaço e dedicando tempo para estar com as crianças e para entenderem um pouco da uma nova cultura que se construía na escola. Um sentimento de valorização, de percepção da própria potencialidade como autoras de um novo sentido sobre a educação das crianças; esse novo tempo foi ao poucos tomando conta das falas e posturas cotidianas, destacando-se o desejo de conhecer ainda mais as crianças e ampliando a compreensão de que será na investigação da própria realidade que se encontra o caminho de crescimento como educadores de crianças. Nome da Instituição: Escola Municipal Olga Benário Responsável: Roseane Moraes Monteiro Função ou cargo que ocupa: Professora Equipe participante: Gabrielhe Santos, Poliana dos Santos Bandeira., Moisés Azulay Município e Estado: Belém - Pará Faixa etária atendida: 5 a 7 anos - EF Categoria: Professor 2 - Investigações Infantis O que levou a realização da prática? (diagnóstico)Nesta prática, o desafio da professora de uma turma do 1º Ano do Ensino Fundamental foi desenvolver um trabalho diferenciado e com significado, que garantisse o direito de aprendizagem a uma aluna deficiente visual, com qualidade de acesso e permanência, como preconiza a LDB, bem como, de acordo com a proposta do Pacto Nacional da Alfabetização na Idade Certa. ‘Alfabetizar com os sentidos’ foi a ação desenvolvida com 25 crianças entre 5 a 7 anos e teve por objetivo proporcionar vivências significativas de letramento com estímulos ao uso dos sentidos, possibilitando uma interação com o universo de uma criança cega. Desse modo, feita a análise diagnóstica com base no SEA (Sistema de Escrita Alfabética), a professora observou as diferentes hipóteses das crianças com relação à língua. Constatou que apenas a aluna com deficiência “T”, era alfabética pois, por meio de um escriba ou do alfabeto móvel, conseguia escrever palavras canônicas e não canônicas e estava iniciando seu aprendizado no Sistema Braille em um instituto especializado. Descrição das intervenções que foram realizadasNo início do processo as atividades desenvolvidas eram voltadas à adaptação e diagnose das crianças, inseridas no projeto da rede municipal. Mas ao perceber o interesse das crianças por música, a professora iniciou uma abordagem com cantigas de roda, com movimentos e gestos, localização e atividades de leitura e escrita de textos conhecidos. Inicialmente “T” realizava a atividade em caderno adaptado A3 e gostava de fazer seus registros a sua maneira; também recorria ao alfabeto móvel de plástico ou de madeira. “Destaco aqui um momento de angústia quando a via dedilhando o livro sem nenhum relevo e decidi fazer o mesmo quando todos saíram, vendei meus olhos e passei o dedo e imaginei como me sentiria se fosse comigo. Essa experiência com o livro foi marcante e por isso, precisei de alguns dias para fazer adaptações nos 3 livros preferidos dela, pois aproveitei a habilidade que a criança tinha em memorizar e reconhecer diversas formas em relevo”. (depoimento da professora) Depois de lerem a história de João e o pé de feijão e de estudarem a importância dos vegetais em nossa alimentação, as crianças plantaram feijões que regavam e colocavam ao sol todos os dias, registrando seu processo de crescimento. Assim, “T” pode perceber as mudanças ao tocar na terra e também ajudar no cuidado com a planta, bem como registrando suas impressões. Diariamente, “T” impressionava a todos por sua habilidade em se adaptar a diferentes situações, desde uma simples brincadeira com balões em que ela pediu o de cor rosa. Ao ser questionada por que queria o rosa, ela respondeu: - “Ora, é cor de princesa e é a minha cor preferida”! Ao distribuir os balões de várias cores, a professora fazia analogias por meio de objetos ou falas para ”T”, como por exemplo: balão branco/ algodão para dizer como era macio, assim como a cor; balão verde / folha de árvore; amarelo/quente como o sol, marrom /chocolate e assim por diante. Desde então, “T” fazia questão de pintar com as cores conhecidas, pois seus lápis tinham tamanhos e espessuras diferentes e ela conhecia todos. No segundo semestre iniciaram o trabalho com o sistema Braille a partir da doação da reglete e punção pelo técnico do Departamento de Educação Especial e com o apoio de uma estagiária com curso básico em braile. A partir de então, passaram para uma nova fase de reestruturação das atividades, pois de acordo com Sá e Magalhães (2008), para a realização da escrita ou leitura em braille, é necessário que a criança conheça e assimile conceitos gerais e específicos desse sistema. A visita semanal do técnico, que também era cego, o apoio da estagiária e da família na elaboração de materiais, bem como, as pesquisas e estudos sobre essa nova forma de escrita fez a professora ousar na introdução desse sistema, mesmo estando em sala regular. E o processo foi significativo também para os outros educandos que quiseram aprender como ela fazia para ler ‘as bolinhas’. A partir desse interesse a professora reproduziu as fichas de nomes e montou placas para os espaços com formato em Braille. Após a inserção do Sistema Braille, as atividades passaram a ser registradas e transcritas pela própria criança e adaptadas, quando necessário, e isso fez com que a aluna tivesse avanços significativos na escrita, pois ela passou a produzir textos mais complexos. Uma ação interessante nesse processo foi a discussão sobre eleições e representação. As crianças vivenciaram um processo eleitoral para eleger o representante da turma junto à direção para discutir melhorias necessárias à escola. Fizeram simulações sobre a retirada do título de eleitor, o registro das propostas e fizeram um debate dos candidatos onde trataram de temas relativos aos direitos e prioridades das pessoas deficientes. Até as cédulas foram adaptadas em braile. Houve um avanço das crianças na escrita e leitura. Por ver a necessidade de “T” ler, adaptaram o livro “Se criança governasse o mundo” de Marcelo Xavier com ilustrações e interferências táteis das crianças, registrado em braile. O resultado foi apresentado na Feira Cultural e depois, em comum acordo com as crianças e familiares, o livro foi doado à biblioteca da escola. Descrição dos saberes e fazeres infantis que emergiram no trabalho desenvolvido O projeto priorizou o trabalho diversificado, com atividades em grupos ou pares, favorecendo a troca de experiências e saberes das crianças. As aulas expositivas e descritivas com exemplos concretos, apoiou a criança cega a sentir-se partícipe de tudo e não apenas uma ouvinte. As crianças passaram a se envolver mais na elaboração das aulas, davam sugestões de atividades, como a da leitura diária, ora realizada pela professora, ora pelas criança ou em áudios e vídeos, geralmente adaptados com descrições verbais. A característica diferenciada da turma e as respostas dada por “T”, que demonstrava bastante autonomia e sempre buscava novos desafios, acabou despertando a atenção dos educandos que, por vezes, chegaram a duvidar se ela enxergava ou não, pois era difícil para eles entenderem como ela conseguia saber e fazer coisas que eles não conseguiam. Muitas vezes, recorriam a ela para auxiliá-los, o que contribuiu para que os alunos da turma sentissem o desejo de saber e ser como ela. Cada fase, evento ou atividade do projeto era pensado e combinado com todos e houve a preocupação das crianças em não deixar a amiga de fora. As crianças queriam acompanhá-la no parquinho, sentar-se ao lado dela, ajudar no que fosse preciso, pois eles a viam por suas qualidades e não por sua deficiência. Descrição dos resultados das ações Os objetivos foram alcançados de forma significativa para a turma e para cada educando. Mesmo com toda a complexidade que é alfabetizar uma criança com deficiência visual, existem muitas semelhanças no processo de alfabetização e letramento como aponta Almeida (2002), - “a principal semelhança é que as crianças com cegueira passam pelas mesmas etapas, conflitos cognitivos e têm o mesmo desejo de aprender”. Nos primeiros meses as crianças tinham receio, algumas sentiam dó, no entanto, com o passar do tempo e vendo a evolução da criança, as falas eram bem diferentes. As crianças sempre diziam que "T" era a menina mais inteligente da turma, que ela precisava de ajuda, mas que sabia se cuidar muito bem. “T” tornou-se bem popular e fez amizades com crianças de outras turmas, as famílias ficaram mais próximas e solicitaram uma confraternização ao final do ano, um momento de grande alegria e gratidão. Houve um efeito foi de mão dupla, pois o bem que ela fazia aos demais retornava a ela em forma de boas gargalhadas e também um esforço por parte de todos. Ao refletir sobre sua prática, a professora se reporta a Paulo Freire: “Educar é impregnar de sentido o que fazemos a cada instante”. Por tudo o que foi vivenciado nesse projeto e pelos resultados, que ultrapassaram as paredes da sala e fizeram com que a escola se tornasse uma referência de trabalho com criança cega e de baixa visão, hoje essa temática compõe o PP e a formação continuada em serviço. |
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Novembro 2019
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