Nome da Instituição: Escola Municipal de Educação Infantil Cecilia Meireles Responsável: Caroline da Costa Cardoso Função ou cargo que ocupa: Professora de Educação Infantil Município e Estado: Uruguaiana/RS Faixa etária atendida: 4 a 5 anos Categoria: Professor 2: Passei a ouvir, observar e conhecer mais as crianças O que levou a realização da prática? (diagnóstico) Ao trabalhar com projetos na educação infantil, no início do ano letivo, dedico-me a ouvir as crianças atentamente e analisar seus pensamentos, manifestados das mais diversas formas. A partir dessa prática, busco delinear percurso(s) de investigação para que construam significados a partir de suas curiosidades. Em uma manhã, estávamos no pátio da escola, brincando na pracinha, quando as crianças olharam para a lua e iniciaram uma conversa, discutindo sobre qual era a fase do satélite naquele dia. Nos dias seguintes, sempre que estávamos no pátio da escola, notei que essas indagações se repetiam, com inquietações mais profundas, que envolviam mais crianças. Queriam saber porque conseguiam ver a lua de dia e, em um dia nublado, onde ela poderia estar? Com isso, compreendi que era fundamental as crianças, primeiramente, entenderem como acontecia o dia e a noite, como o formato da lua se transformava, a nossa localização e como a visualizávamos, os recursos utilizados para vê-la melhor luneta) e, dessas propostas iniciais, outras que emergiriam a partir de suas curiosidades. Brincadeiras, experiências, observações e pesquisas foram organizadas para que as crianças construíssem conhecimentos a partir dessas indagações. Pensava, como professora, que estava conseguindo acompanhar verdadeiramente as inquietudes das crianças e contribuir para suas aprendizagens, através de experiências planejadas por mim. Também estava satisfeita com o interesse e a participação da turma, constantes mas um tanto tímidos, sem imaginar que, mais adiante, presenciaria o verdadeiro protagonismo infantil. Descrição das intervenções que foram realizadas Ao final de um percurso de experiências proporcionadas às crianças, ao longo de alguns meses, como observação do sol e nascer da lua na zona rural da cidade, a exploração do recurso midiático Google Earth, a visualização da lua através de luneta e a visita a um planetário, percebi que havia despertado nelas sensações de pertencimento a um espaço imensamente maior do que aquele que habitavam. E perceber, além de nós, um universo infinito, fez com que desejassem, imaginassem e acreditassem em uma possível viagem ao espaço. Nos diálogos que estabeleciam, notei que estavam imersas em um grande jogo simbólico, faziam seus planos para a “viagem ao espaço”, sonhando com o que vivenciariam quando conseguissem chegar à lua, tocar as estrelas e habitar os planetas. Essa riqueza que apresentavam, extrapolou minhas escutas cotidianas, então, não imaginei outra possibilidade, se não, segui-las nessa aventura. Demonstravam potencialidades para protagonizar um novo percurso no projeto e me guiaram para o planejamento da sonhada viagem. Descrição dos saberes e fazeres infantis que emergiram no trabalho desenvolvido Primeiramente, pensaram sobre como chegaríamos lá: tarefa fácil. Todos sabiam que o meio de transporte necessário era uma nave espacial. Mas como teríamos isso? Inspirado por projetos das crianças, um amigo da escola materializou o transporte imaginado, com madeira e papelão. Imprimindo suas identidades, as crianças coloriram a nave com rolo e tinta. No entanto, não bastava que tivessem uma nave, precisariam de muito mais para a viagem, e tudo era pensado. Diante de tantas ideias, sugeri que criássemos uma lista, pois assim, nada seria esquecido. Cada criança anotou, a sua maneira, aquilo que considerava importante levarmos ao espaço. Destacou-se, dentre as anotações das crianças, a necessidade de levarem o brinquedo favorito e como segundo item mais importante, os alimentos que mais apreciavam e consideravam necessários para a sobrevivência. Uma delas sugeriu que seria útil uma mesa e alguns banquinhos, outra, que fizéssemos uma roupa de astronauta. Tornou-se missão, para as famílias, envolvidas no trabalho, materializar os desejos para a viagem. Todos sabiam o que encontrariam no espaço, no entanto, em qual direção nossa nave deveria seguir? Sabendo que os mapas existem para facilitar a localização das pessoas aqui na terra, uma criança sugeriu que organizássemos nosso próprio mapa, que definiria o roteiro da viagem, que caminhos percorreríamos e o que faríamos em cada lugar. Em meio à criação desse item, ficou visível a capacidade imagética das crianças: “Vamos brincar de patinar nos anéis de Saturno.” “Temos que cuidar os meteoros, cuidar o buraco negro, para não ficar lá para sempre, e não ir para nenhum lugar, ficar perdido.” “Profe, tu pode tapar o buraco negro? Porque daí não caímos...” Marcada a data para a decolagem de nossa nave, as crianças começaram a trazer de casa, com a participação ativa das famílias, os itens necessários para equiparmos nosso meio de transporte para o espaço. Cada criança analisava a melhor forma para organizar, na nave, o objeto que havia levado para a escola. Protagonizavam cada momento. Não parava o surgimento de novas ideias, olhando para a nave, composta com alguns equipamentos, percebiam que ainda faltavam algumas coisas: luzes e bandeiras, do Brasil e da Escola. Tudo acontecia conforme o encantamento das crianças. Ao acolher as crianças no início da manhã, do dia em que ocorreria a decolagem, foi impossível não perceber as emoções que transpareciam nos olhares, falas, e gestos inquietos. Os familiares demonstravam que as expectativas para a viagem haviam contagiado também os adultos. A mãe de uma criança relatou: “Ela acordou pensando na viagem, disse que vai tirar muitas fotos com os colegas, de todos os planetas, para que, quando voltar, possa lembrar tudo”. Chegavam junto a algumas crianças, os alimentos perecíveis que desejaram levar na viagem, como pasteizinhos, que foram carinhosamente preparados pela avó de uma menina. Na hora da decolagem, todos, tomados por surpresa e encantamento, reagiam de formas singulares. Uns corriam para logo entrar na nave, outros analisavam o caminho e quem os assistia e, alguns ainda faziam de conta, imersos na brincadeira. Notei que um menino, ao caminhar entre o corredor humano, movimentava-se vagarosamente, marcando passos, até que se virou de costas para a nave e abanou para todos: a representação de um astronauta. Ao embarcarem, fechávamos a porta da nave e a aventura começava. Do lado de fora, o guarda e escolar e um funcionário da equipe de apoio contribuíam, movimentando a nave para que a imaginação, de quem estava do lado de dentro, guiasse o faz de conta. Sorrisos e gargalhadas vinham daqueles que estavam incrédulos de que chegaríamos mesmo ao espaço e, olhares espantados, eram percebidos naqueles que tinham receio do que aconteceria com aqueles movimentos que a nave fazia. Em meio a tudo isso, não hesitavam em degustar os pasteizinhos, lanche da viagem. Após a “decolagem” de cada um dos grupos, uma nova questão se apresentava: Porque a nave não decolou? Várias justificativas foram apresentadas pelas crianças: que a falta de fogo impediu a decolagem, que a nave não decolaria, pois era de papelão e madeira e, ainda, porque nela não havia um motor. Para que pudéssemos esclarecer essas questões, em nossa cidade, havia uma possibilidade: Os pilotos do helicóptero, que também iam ao céu e, com isso, poderiam ter algum conhecimento que esclarecesse nossas dúvidas. Descrição dos resultados das ações Toda a escola soube do grande evento que aconteceria em nossa turma e, percebendo a nave posicionada no pátio, turmas deslocaram-se com suas professoras, para despedirem-se das crianças que viajariam ao espaço. Formou-se um grande corredor, pelo qual as crianças passavam até chegar à nave. As crianças de outras turmas também quiseram experimentar a brincadeira e, os adultos, envolvidos na brincadeira, encantavam-se com suas reações. Não houve finalização determinada para toda a aventura. Assim como guiaram a constituição dos percursos, também souberam demonstrar o quanto estavam preenchidas pelas experiências. A grande brincadeira, sonhada, imaginada, materializada e vivenciada encerrou-se no tempo das crianças. As memórias permanecem vivas, em mim, para que como professora, desafie-me sempre a potencializar as linguagens das crianças e, nelas, que além de jamais esquecerem nossa aventura, sintam-se capazes de sonhar e realizar.
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Novembro 2019
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