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Alfabetizar com os sentidos

2/10/2019

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Nome da Instituição: Escola Municipal Olga Benário
Responsável: Roseane Moraes Monteiro
Função ou cargo que ocupa: Professora
Equipe participante: Gabrielhe Santos, Poliana dos Santos Bandeira., Moisés Azulay
Município e Estado:  Belém - Pará
Faixa etária atendida: 5 a 7 anos - EF 
Categoria: Professor 2 - Investigações Infantis


​O que levou a realização da prática? (diagnóstico)

​Nesta prática, o desafio da professora de uma turma do 1º Ano do Ensino Fundamental foi desenvolver um trabalho diferenciado e com significado, que garantisse o direito de aprendizagem a uma aluna deficiente visual, com qualidade de acesso e permanência, como preconiza a LDB, bem como, de acordo com a proposta do Pacto Nacional da Alfabetização na Idade Certa.
‘Alfabetizar com os sentidos’ foi a ação desenvolvida com 25 crianças entre 5 a 7 anos e teve por objetivo proporcionar vivências significativas de letramento com estímulos ao uso dos sentidos, possibilitando uma interação com o universo de uma criança cega.
Desse modo, feita a análise diagnóstica com base no SEA (Sistema de Escrita Alfabética), a professora observou as diferentes hipóteses das crianças com relação à língua. Constatou que apenas a aluna com deficiência “T”, era alfabética pois, por meio de um escriba ou do alfabeto móvel, conseguia escrever palavras canônicas e não canônicas e estava iniciando seu aprendizado no Sistema Braille em um instituto especializado.

Descrição das intervenções que foram realizadas

No início do processo as atividades desenvolvidas eram voltadas à adaptação e diagnose das crianças, inseridas no projeto da rede municipal.
Mas ao perceber o interesse das crianças por música, a professora iniciou uma abordagem com cantigas de roda, com movimentos e gestos, localização e atividades de leitura e escrita de textos conhecidos. Inicialmente “T” realizava a atividade em caderno adaptado A3 e gostava de fazer seus registros a sua maneira; também recorria ao alfabeto móvel de plástico ou de madeira.
“Destaco aqui um momento de angústia quando a via dedilhando o livro sem nenhum relevo e decidi fazer o mesmo quando todos saíram, vendei meus olhos e passei o dedo e imaginei como me sentiria se fosse comigo. Essa experiência com o livro foi marcante e por isso, precisei de alguns dias para fazer adaptações nos 3 livros preferidos dela, pois aproveitei a habilidade que a criança tinha em memorizar e reconhecer diversas formas em relevo”.
(depoimento da professora)

Depois de lerem a história de João e o pé de feijão e de estudarem a importância dos vegetais em nossa alimentação, as crianças plantaram feijões que regavam e colocavam ao sol todos os dias, registrando seu processo de crescimento.  Assim, “T” pode perceber as mudanças ao tocar na terra e também ajudar no cuidado com a planta, bem como registrando suas impressões.
Diariamente, “T” impressionava a todos por sua habilidade em se adaptar a diferentes situações, desde uma simples brincadeira com balões em que ela pediu o de cor rosa. Ao ser questionada por que queria o rosa, ela respondeu: - “Ora, é cor de princesa e é a minha cor preferida”!
Ao distribuir os balões de várias cores, a professora fazia analogias por meio de objetos ou falas para ”T”,  como por exemplo: balão branco/ algodão para dizer como era macio, assim como a cor; balão verde / folha de árvore; amarelo/quente como o sol, marrom /chocolate e assim por diante. Desde então, “T” fazia questão de pintar com as cores conhecidas, pois seus lápis tinham tamanhos e espessuras diferentes e ela conhecia todos.
No segundo semestre iniciaram o trabalho com o sistema Braille a partir da doação da reglete e punção pelo técnico do Departamento de Educação Especial e com o apoio de uma estagiária com curso básico em braile. A partir de então, passaram para uma nova fase de reestruturação das atividades, pois de acordo com Sá e Magalhães (2008), para a realização da escrita ou leitura em braille, é necessário que a criança conheça e assimile conceitos gerais e específicos desse sistema.
A visita semanal do técnico, que também era cego, o apoio da estagiária e da família na elaboração de materiais, bem como, as pesquisas e estudos sobre essa nova forma de escrita fez a professora ousar na introdução desse sistema, mesmo estando em sala regular. E o processo foi significativo também para os outros educandos que quiseram aprender como ela fazia para ler ‘as bolinhas’. A partir desse interesse a professora reproduziu as fichas de nomes e montou placas para os espaços com formato em Braille. Após a inserção do Sistema Braille, as atividades passaram a ser registradas e transcritas pela própria criança e adaptadas, quando necessário, e isso fez com que a aluna tivesse avanços significativos na escrita, pois ela passou a produzir textos mais complexos.
Uma ação interessante nesse processo foi a discussão sobre eleições e representação. As crianças vivenciaram um processo eleitoral para eleger o representante da turma junto à direção para discutir melhorias necessárias à escola. Fizeram simulações sobre a retirada do título de eleitor, o registro das propostas e fizeram um debate dos candidatos onde trataram de temas relativos aos direitos e prioridades das pessoas deficientes. Até as cédulas foram adaptadas em braile.
Houve um avanço das crianças na escrita e leitura. Por ver a necessidade de “T” ler, adaptaram o livro “Se criança governasse o mundo” de Marcelo Xavier com ilustrações e interferências táteis das crianças, registrado em braile. O resultado foi apresentado na Feira Cultural e depois, em comum acordo com as crianças e familiares, o livro foi doado à biblioteca da escola.

Descrição dos saberes e fazeres infantis que emergiram no trabalho desenvolvido

O projeto priorizou o trabalho diversificado, com atividades em grupos ou pares, favorecendo a troca de experiências e saberes das crianças.
As aulas expositivas e descritivas com exemplos concretos, apoiou a criança cega a sentir-se partícipe de tudo e não apenas uma ouvinte. As crianças passaram a se envolver mais na elaboração das aulas, davam sugestões de atividades, como a da leitura diária, ora realizada pela professora, ora pelas criança ou em áudios e vídeos, geralmente adaptados com descrições verbais.
A característica diferenciada da turma e as respostas dada por “T”, que demonstrava bastante autonomia e sempre buscava novos desafios, acabou despertando a atenção dos educandos que, por vezes, chegaram a duvidar se ela enxergava ou não, pois era difícil para eles entenderem como ela conseguia saber e fazer coisas que eles não conseguiam. Muitas vezes, recorriam a ela para auxiliá-los, o que contribuiu para que os alunos da turma sentissem o desejo de saber e ser como ela. Cada fase, evento ou atividade do projeto era pensado e combinado com todos e houve a preocupação das crianças em não deixar a amiga de fora. As crianças queriam acompanhá-la no parquinho, sentar-se ao lado dela, ajudar no que fosse preciso, pois eles a viam por suas qualidades e não por sua deficiência.

Descrição dos resultados das ações

Os objetivos foram alcançados de forma significativa para a turma e para cada educando.
Mesmo com toda a complexidade que é alfabetizar uma criança com deficiência visual, existem muitas semelhanças no processo de alfabetização e letramento como aponta Almeida (2002), - “a principal semelhança é que as crianças com cegueira passam pelas mesmas etapas, conflitos cognitivos e têm o mesmo desejo de aprender”.
Nos primeiros meses as crianças tinham receio, algumas sentiam dó, no entanto, com o passar do tempo e vendo a evolução da criança, as falas eram bem diferentes. As crianças sempre diziam que "T" era a menina mais inteligente da turma, que ela precisava de ajuda, mas que sabia se cuidar muito bem. “T” tornou-se bem popular e fez amizades com crianças de outras turmas, as famílias ficaram mais próximas e solicitaram uma confraternização ao final do ano, um momento de grande alegria e gratidão.
Houve um efeito foi de mão dupla, pois o bem que ela fazia aos demais retornava a ela em forma de boas gargalhadas e também um esforço por parte de todos.
Ao refletir sobre sua prática, a professora se reporta a Paulo Freire: “Educar é impregnar de sentido o que fazemos a cada instante”.
Por tudo o que foi vivenciado nesse projeto e pelos resultados, que ultrapassaram as paredes da sala e fizeram com que a escola se tornasse uma referência de trabalho com criança cega e de baixa visão, hoje essa temática compõe o PP e a formação continuada em serviço.



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